sexta-feira, 29 de março de 2013

O meu Neruda


Pablo Neruda dispensa apresentações; um dos poetas mais lidos, aclamados, publicados e traduzidos em vida do grande século XX! Ganhou o nobel em 1971 e já era então um poeta consagrado no mundo inteiro. Ainda assim eu gostaria de falar um pouco da sua vida antes de contar a minha experiência com a sua poesia única.

Pablo Neruda nasceu no Chile e começou a escrever poemas desde muito novo. Publicou seu primeiro poema aos 14 anos; com 22 já tinha alguns livros de poesias  aclamados em sua terra natal. Depois viajou o mundo  trabalhando como cônsul e passou anos decisivos para sua vida vivendo na Espanha. Foi grande amigo de poetas como Federico García Lorca, Miguel Hernandez, Vinícius de Moraes e também aluno de Gabriela Mistral.

Sua vida na Espanha e a experiência da guerra o marcaram profundamente. Sua relação com o mar, com sua última esposa e com o destino de sua pátria e sua gente o transformaram nos nosso grande Neruda. ;)

Nasceu chileno, mas se tornou latinoamericano, espanhol e portador de uma esperança. Nasceu Ricardo, mas se tornou Pablo: o poeta de Isla Negra, o homem que amava com desespero e ternura, que gostava de colecionar artefatos ligados ao mar e outros inusitados, que admirava Matilde, que sabia amar seus amigos com toda sua alma, que nunca perdeu a capacidade de fazer perguntas e que era solidário a uma causa. Porque um poeta escolhe o que quer ser, assim como escolhe cada palavra e cada estrofe de sua poesia. Assim Pablo escolheu ser o grande Neruda e nos deixou uma obra poética inigualável.



Início de um dos meus poemas favoritos de Neruda!


O meu Neruda da adolescência foi o de Vinte Poemas de Amor e uma Canção desesperada (que poesia inesquecível! Como ficar imune diante das estrofes "Todo te lo tragaste, como la lejanía. Como el mar, como el tiempo. Todo en ti fue naufrágio!"). O poema 15 ressoa na minha alma até hoje... porque fez parte de trocas e confidências de um amor único e, na época, impossível...



Depois veio o Neruda de Barcarola (A preferida? Não consigo escolher, mas amo demais essa poesia...)  de Canto General, do belíssimo Reunión bajos las nuevas banderas e de España en el corazón... Não posso deixar de ler esta estrofe inúmeras vezes e sentir um aperto no peito:

"(...) Y una mañana todo estava ardiendo
y una mañana las hogueras
salían de la tierra
devorando seres
y desde enonces fuego,
pólvora desde entonces
y desde entonces sangre.
Bandidos con aviones y con moros,
Bandidos con sortijas y duquesas,
bandidos con frailes negros bendiciendo
venían por el cielo a matar niños,
y por las calles la sangre de los niños
corría simplemente como sangre de niños. (...)"
Trecho de España en él corazón, Pablo Neruda.


E hoje ainda tenho um mundo de poesias do Neruda para descobrir (que bom!). 

As últimas alegrias foram Ode a uma estrela e Livro das perguntas que comprei nas belíssimas edições da Cosac para homenagear o querido poeta. 

Neruda merece edições especiais assim; e como! (e nós, leitores apaixonados, agradecemos!)

Gostei muito dos dois livros, mas O Livro das perguntas é de uma singeleza imperdível, necessária e vital. 

Recomendo com força a todos os que sabem que é melhor ter sempre perguntas do que respostas. ;)


Para terminar este post e começar bem o dia (rs) dois poemas absolutamente incríveis escritos em 1973 (este também, um ano para não esquecer jamais): Vinicius em homenagem a Neruda e  Pablo: sereno, terno e simples no fim da vida (Pido silencio).


"Breve consideração
à margem do ano assassino de 1973.

Que ano mais sem critério
Esse de setenta e três...
Levou para o cemitério
Três Pablos de uma só vez.
Tês Pablos, não três pablinhos
No tempo como no espaço
Pablos de muitos caminhos:
Neruda, Casals, Picasso.

Três Pablos que se empenharam
Contra o facismo espanhol
Três Pablos que muito amaram
Três Pablos cheios de Sol.
Um trio de imensos Pablos
Em gênio e demonstração
Feita de engenho, trabalho
Pincel, arco e escrita à mão.

Três publicíssimos Pablos
Picasso, Casals, Neruda
Três Pablos de muita agenda
Três Pablos de muita ajuda.
Três líderes cuja morte
O mundo inteiro sentiu...
Ô ano triste e sem sorte:

- VÁ PARA A PUTA QUE O PARIU!
"
Vinícius de Moraes (em: História natural de Pablo Neruda. A elegia que vem de longe).



"Pido silencio

Ahora me dejen tranquilo
Ahora se acostumbren sin mí
Yo voy a cerrar los ojos
Y solo quiero cinco cosas
Cinco raizes preferidas
Una es el amor sin fin
lo segundo es ver el otoño
No puedo ser sin que las hojas
vuelen y vuelvan a la tierra
lo tercero és el grabe invierno
la llúvia que a mí
la acarícia del fuego en el frío silvestre
En cuarto lugar el verano
redondo como una sandía
la quinta cosa son tus ojos
Matilde mía, bién amada,
no quiero dormir sin tus ojos
no quiero ser sin que me mires
Yo cambio la primavera 
por que me sigas mirando"
Pablo Neruda





Para ler Neruda (serviço):

Pablo Neruda Antologia Poética. Livraria José Olympio Editora. (Edição Bilíngue! Bom preço na Estante Virtual;)
Ode a uma Estrela, Pablo Neruda. Cosac Naify
Livro das Perguntas, Pablo Neruda. Cosac Naify (tradução primorosa de Ferreira Gullar)
História natural de Pablo Neruda. A elegia que vem de longe, Vinicius de Moraes. Xilogravuras de Calasans Neto. (Uma belíssima homenagem a Neruda!)
Pablo Neruda Antología General. Real Academia Española, edición comemorativa. (MUITO boa, vende com preço bom na FNAC).

sexta-feira, 22 de março de 2013

Bula de Benedetti


Mario Benedetti nasceu em 1920 no Uruguai e tornou-se um escritor de renome internacional. Dedicou sua vida à escrita e nos deixou mais 80 livros.  Sim, mais de OITENTA livros!  Dentre estes, a maioria romances e livros de poesia.

Viveu a maior parte da sua vida no Uruguai; mas também rodou o mundo em um exílio que durou quase 10 anos. Sua vida era a palavra. 
Além dos romances, contos e poesias, deixou-nos textos de critica cinematográfica, ensaios sobre literatura, teatro e política. 

Amava a poesia e sua Inez incondicionalmente. O seu último livro, publicado pouco depois da sua morte (em 2009), é uma autobiografia poética... Como não amar? 


Primavera num Espelho partido (lindo!), Biografía para Encontrarme - o último livro de Benedetti; 
A Trégua - o seu romance mais traduzido publicado em todo o mundo e os poemas de amor!


Benedetti foi adotado tardiamente na minha vida. Eu tinha 34 anos quando o conheci. Um único livro me fez amá-lo como escritor por inteiro, os textos seguintes só confirmaram minha escolha inicial; agora para sempre irrestrita e incondicional. Amor literário à primeira vista decididamente existe, e é muito bom!

Depois de terminar de ler o belíssimo Primavera num espelho partido,  acordei um dia com sintomas de falta de Benedetti aguda (agudíssima!): não conseguia respirar direito, meu peito doía e minha mente estava entrando em um vazio terrível. Saí correndo até a livraria mais próxima e adquiri uma compilação de poemas de amor escrita pelo meu mais novo amante latino. Depois de uns três poemas já respirava melhor e pude sentir meu batimento cardíaco desacelerar enquanto alisava e cheirava as páginas do meu antídoto contra o pior mal-estar que já senti nos últimos tempos: a apatia. Cada poesia, cada palavra, cada emoção e minha alma sonhadora ia se recompondo... Desde então eu soube que nunca mais viveria sem a escrita inigualável deste uruguaio boa gente que, infelizmente,  nos deixou em 2009.


Comecei 2013 lendo os poemas de Biografia para encontrarme e chorando copiosamente com Santomé, como já contei por aqui. ;)

























Na minha vida, as obras de Mario Benedetti são remédios para a alma;  se o escritor uruguaio viesse com bula, seria algo assim:

Apresentação: Poesia, romance, conto, ensaio, roteiro de cinema e crítica literária.

Uso adulto e pediátrico. ;)

Composição: Cada texto de Benedetti contém beleza, doçura, utopia e harmonia em perfeito equilíbrio.

Informações: Os grandes temas de Benedetti são: memória, exílio, o amor e suas possibilidades e as relações pessoais e de identidade em meio às grandes mudanças políticas e sociais.
Com uma escrita envolvente, é no domínio da criação dos personagens, entretanto, que a estrela de Benedetti brilha mais forte. Os seus personagens tem sabor de família, de intimidade, de passado, de choro, de riso e de solidão. Poderia ser o meu avô, pensei mais de uma vez lendo Primavera... Me perco em seus sentimentos e histórias, amores e desamores; como se estivessem ao meu lado contando suas memórias. Benedetti nos mostra um mundo que é muito "nosso" e é tão novo ao mesmo tempo! Um mundo que se torna pleno de novos significados, novas utopias e possibilidades de sublimação. 

Indicações: Super indicado nos casos de melancolia langorosa, apatia, vazio existencial e saudade do que não se vive. Também recomendado para os que sofrem de descrédito total das instituições políticas e  depressão pós fim das ideologias.
Aos amantes abandonados ou rejeitados é tão necessário como a água o é para todo ser vivo. Nestes casos, é melhor se ingerido em doses homeopáticas; para que os suspiros sejam de esperança e não de desespero.
Aos sonhadores, otimistas e amantes de descobertas: muitíssimo indicado!
Por último, acredito que Benedetti pode ser indicado até mesmo para os cínicos de plantão, os pessimistas e os jovens perdidos em ausências nunca sentidas. Porque ninguém fica imune aos personagens demasiadamente humanos de Benedetti...

Contra indicações: Nenhuma, :-)

Posologia: leia sem moderação, consuma algumas gotas de Benedetti de manhã, à tarde e à noite para efeito mais rápido e duradouro.

Reações adversas: inexistentes até o momento.

Superdosagem: também não há pesquisas conclusivas a este respeito. Mas aconselho a deixar sempre algum Benedetti guardado (ou seja, não lido, rs) para o caso de necessidade imediata.



"Libros

Quiero quedarme em medio de los libros
vibrar con Roque Dalton con Vallejo y
            [Quiroga
ser una de sus páginas
la más inolvidable
y desde allí juzgar al pobre mundo

no pretendo que nada me encuaderne
quiero pensar en rústica
con las pupilas verdes de la memoria franca
en el breviario de la noche en vilo

mi abecedario de los sentimientos
sabe posarse en mis queridos nombres
me siento cómodo entre tantas hojas
con adverbios que son revelaciones
sílabas que me piden un socorro
adjetivos que parecen juguetes

quiero quedarme en medio de los libros
en ellos he aprendido a dar mis pasos
a convivir con mañas y soplidos vitales
a comprender lo que crearon otros
y a ser por fin
este poco que soy"
Mario Benedetti, Biografia para Encontrarme (publicado no Brasil pela Alfaguara)


E agora com licença que vou tomar o restante da minha dose diária de Benedetti. ;)




*Texto escrito para o blog 365 escritores, que hoje não existe mais. Toda sexta agora será dia de falar de um escritor amado aqui no blog! ;)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Oportunidade: kindle fire tablet!

Uma grande amiga minha está vendendo o tablet kindle fire último modelo antes do HD. Ótima oportunidade para quem deseja o combo kindle!

Fotos abaixo - está praticamente novo: pouquíssimo uso.








Kindle Fire Tablet
7" LCD Display, Wi-Fi, 8GB

Preço: R$500,00


Interessados, falar diretamente com ela no email: jcnmendes@gmail.com (Juliana)

Beijos!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Livros novos ou o suicídio do meu cartão de crédito! ;)



Não há palavra na língua portuguesa que explique a alegria de um leitor apaixonado com seus livros novos... ; )

Devo dizer que eu não deveria comprar livros por ora; estes vieram quase escondidos de mim. E não é pelo motivo extremamente racional e óbvio de já possuir muitos livros para ler, mas sim porque vou viajar e precisava economizar. Um motivo puramente capitalista: disse a mim mesma para me engabelar (e apertei o comprar feliz)

Eis que os lindos acima (e mais alguns) vieram morar na minha estante e eu agora tenho o gosto de  apresentar:



O Raymond Chandler assim em box com cores e figuras escandalosas e gritantes veio em um momento "PRECISO desesperadamente ler RC!": foi impossível não comprar! - creio que vocês me entendem...

O caso é que eu estava lendo Vício Inerente, do Pynchon, e vi a referência em homenagem à Chandler e ao outro grande do policial noir americano Dashiell Hammett. Ato contínuo considerei uma heresia continuar o livro do Pynchon sem fazer a devida reverência ao Chandler primeiro. A L&PM é amiga e por R$50,00 me ajudou a resolver parcialmente esse problema (agora só falta ler, rs).

Gostei bastante do Box (pena só que o meu veio amassado!), das capas todas coloridas e da possibilidade de saldar minha dívida com RC por um custo baixo (rs). Porém, devo dizer (meus caros druguis) que um só "defeito" me irrita nessa coleção: os livros são de tamanhos diferentes! Oh, céus: L&PM, por que? Por que você fez isso comigo?

(Não estou louca: reparem na foto do canto à direita)

OK, não é tão gritante; mas não dá para entender ainda assim.. e eu precisava desabafar, gente!



O Leminski escandalosamente LINDO da Companhia eu nem preciso comentar muito: incrível demais essa capa laranjona e o bigode (na foto ficou mais claro do que é no original)! A-M-E-I com força. =D

(Esqueci que também comprei o Virgens Suicidas, outro lançamento da Companhia: esse já li - impressões em breve!)


Ilustrações de A Era das Revoluções - Eric Hobsbawn:Paz e Terra, 2013.


A Era das Revoluções é um livro que eu já queria há muito tempo e aproveitei uma disciplina nova que estou lecionando este semestre como pretexto, rs. Amo que essa edição nova é um pouquinho maior e tem ilustrações!

Bônus:






























Estes adquiri em fevereiro ainda, mas fiz questão de mostrar porque amo essa coleção de bolso da Companhia! 

O Entre os Vândalos foi indicação do Kalebe e O Cavaleiro Inexistente do Calvino faz parte de uma trilogia que começa com O Visconde Partido ao Meio, que li mês passado e gostei muito. Este veio especialmente porque quero participar do Desafio Calvino dos espanadores queridos. Aproveito para divulgar a iniciativa: a Ju e o Kalebe vão ler e comentar em seus vídeos todos os livros do Calvino em ordem cronológica. Adorei o projeto: vou aproveitar para ler com eles muitos livros do Calvino que eu já tinha aqui e ainda não tive o prazer de ler. 

Ficou interessado(a)? Dá uma olhada lá no vídeo onde eles explicam como vai ser! ;)
E tem vários livros do Calvino nessas edições de bolso por um preço legal. 


O Bukovski ao lado eu comprei para ler no kindle (com a papagaiada que vende em epub e não permite transformar o arquivo, mas já resolvi isso... humpf!).

Devo confessar que foi vendo um filme para adolescentes que me deu vontade de ler o velho safado (rs)... Dezesseis luas! Depois, procurando resenhas, encontrei  este vídeo fofo da Isa sobre Misto-quente e me convenci de que queria conhecer Bukovski logo. ;)


Mas, enfim, o importante é que resolvi começar pelos contos desta obra com um título que me cativou de saída. Tenho também um livro de poemas de amor do autor, mas confesso que acho que ainda não estou preparada...

Creio que foi isso que adquiri mais recentemente. Lembro (vagamente) de umas duas comprinhas na estante virtual que ainda não falei (rs), mas fica como pauta mais para frente em posts de dicas. (kkk)

Ah, também recebi um mundo de livros de trocas no skoob e afins que pretendo falar ainda em outro momento e deixar também as dicas de como usar melhor o PLUS no skoob. ;)


E vocês: o que andaram comprando de bom por aí?


Beijos! 


domingo, 17 de março de 2013

Re(organizando) o blog, o vlog, a vida e tudo o mais!

Olá pessoas queridas,
o post de hoje é apenas para falar de projetos pessoais para este blog que eu tanto amo e para o Vlog (que anda parado, mas eu vou voltar a atualizar em breve)! ;)

O prazer de escrever é algo que vem renascendo dentro de mim e com o qual tenho uma relação que valorizo muito na minha vida; até porque é também fonte de superação e crescimento pessoal. 
Por isso, venho hoje dividir com vocês meus planos para este espaço.

Blog:

1. Mais textos de impressões de leitura. ;)

Atualmente, posso dizer que ando em um momento de completo "porre literário",  - sim, peguei emprestado o termo usado pela personagem de Ler, viver e amar em Los Angeles, rs.

O fato é que, por diversas razões existenciais, ando lendo com uma velocidade sôfrega e posso dizer que quase não tenho vontade de fazer mais nada. Pego de tudo, leio tudo e quero mais... muito mais!

Daí que resolvi canalizar essa energia para coisas produtivas, ou seja: textos sobre os livros que ando lendo. ; )

(PS: Por enquanto, tenho já rascunhos de cinco comentários de leituras realizadas... falta só ficar "sóbria" e conseguir dar uma inteligibilidade e digitar, haha!)

Criei duas tags para diferenciar os textos sobre leituras aqui no blog: impressões de leitura (Oh, que originalidade! kkk) e fórum literário (onde o texto revela detalhes do livro e tem o objetivo de debater com quem já leu a obra, ok?)



2. Projeto autores amados: 

Falar da nossa relação com escritores que passam a fazer parte da nossa vida é maravilhoso!

Quem acompanhou a breve existência do 365 escritores  sabe que esse era o grande diferencial do projeto (que, infelizmente, tivemos que abandonar).

Pois bem, continuarei essa proposta aqui no blog: uma vez por semana falarei de algum escritor que faz parte da minha vida e deixarei registrado para a posteridade todo meu amor, rs.

Aviso também que os posts que eu mais gostei de escrever para o finado blog 365 virão para cá, ok?

Benedetti, Gabo, Llosa, Bolaño, Saer, Cortázar, Rosa, Amado, Mia, Agualusa, Ondjaki, Chimamanda, Mansfield, Wilde, e tantos outros: fico feliz só de pensar em falar deles... <3 p="">
A tag para essa postagem fixa semanal ainda não pensei (rs); portanto aceito sugestões! =D


3. Outros mundos possíveis


Quem conheceu o blog desde os seus primórdios (rs), lembra que eu adorava falar das minhas viagens por aqui: desde os preparativos até dicas pós retorno.

Eu simplesmente vivo para viajar: estou sempre pensando no próximo destino e não consigo me imaginar sem conhecer periodicamente novos lugares.

Parte desse meu instinto ambulante se deve à minha origem e meus hábitos: minha mãe é hondureña e meu pai brasileiro. Nasci aqui, mas fui viver lá ainda bebê. Depois voltei para viver no Brasil, mas retorno constantemente para Honduras e estou também sempre aberta a oportunidades de passeio e trabalho em outros países da América Latina.

Ainda assim, posso dizer que conheço pouco minha verdadeira pátria (a nossa América!). Costa Rica, Honduras, Panamá, Chile, Argentina e República Dominicana são os países que já tive prazer de conhecer. Mas quero conhecer ainda todos os outro e também, é claro a Europa e a África, o oriente... Ou seja: muito mundos possíveis! rs

Passei por um momento difícil nos dois últimos anos e quase não viajei... Mas a vida, ainda bem, nos dá sempre novas oportunidades de mudança e sinto que este ano está começando muito bem no sentido de voltar a viver minha paixão por conhecer o mundo!

Em breve, então, poderei falar um pouco dessas alegrias por aqui também. ; )

Novo projeto para o Vlog: 


Ah, o futuro do Vlog eu não vou contar por agora que este post já está enorme; mas saibam que estou MUITO feliz com o direcionamento que escolhi para o meu canal no YT! Em breve mudanças boas por lá também.

Beijos, boa semana e bons sonhos! ; )

domingo, 10 de março de 2013

Entre Pontos e Vírgulas: O Colecionador de John Fowles

Olá,
em primeiro lugar, gostaria de salientar que este não é um post como os outros e sim um texto especial para o fórum literário Entre Pontos e Vírgulas.

No fórum (criado por esta que vos escreve administrado também pela linda da Lua) lemos um livro por mês e comentamos as leituras tanto por lá quanto a partir de posts e vídeos em nossos canais, blogs etc.

Neste mês de março, excepcionalmente, leremos dois livros. O Colecionador foi o primeiro e hoje é o dia da postagem conjunta das impressões de leitura.

Bom, dito isto, este post é para falar do que eu achei do livro e não tem compromisso de apresentar a história e nem de evitar spoilers, ok?

Foi o meu primeiro contato com a escrita do Fowles e a sensação foi ótima: o cara tem um domínio do texto que me cativou demais! Além disso, o modo como construiu e nos apresentou os seus personagens, a alternância no texto entre os dois e o modo como a psicologia de cada um vai sendo desnudada através do relato em primeira pessoa: tudo isso contribui para uma leitura muito interessante! Definitivamente um ótimo livro e que me prendeu do início ao fim!

A minha edição, entretanto, não ajudou. A editora é a abril cultural. Consegui na Estante Virtual, mas é bem velhinha e com aquela forma de encadernação que se desfaz toda depois de algum tempo (o que aconteceu durante a leitura). Além disso, a letra é pequena e o tom do papel e a "finura" do mesmo são ruins porque permitem ver a marca das letras no verso (e isso atrapalha bastante a leitura...).

Enfim, um livro tão bom merecia uma edição nova e mais caprichada, certo? (Oi, alfaguara?).

Mas, mesmo com tudo isso "atrapalhando", eu me vi em plena terça-feira de noite lendo loucamente O Colecionador à luz de velas! (Sim, chovendo e trovejando lá fora e eu alucinada com o enredo e o texto de Fowles, rs).

Voltando às minha impressões sobre o texto. 
Em um primeiro momento, conhecemos a morosidade da vida e dos desejos de Frederick Clegg através da voz do próprio. Funcionário público, criado pelos tios, colecionador de borboletas mortas, sem nenhuma transcendência e com apenas a obsessão por Miranda e sua beleza como elemento motivador na sua vida. Um evento inesperado, entretanto, ocorre em sua vida: ganha uma enorme quantia de dinheiro em uma rede de apostas em jogos.

A partir daí acompanhamos a realização do seu desejo de ter Miranda para si como um objeto em paralelo com a sua completa falta de qualquer outra coisa própria e capaz de gerar algo bom: ele só conhece o desejo estático. Como Miranda o define: ele é um calibã! (Essa é a segunda referência a Tempestade de Shakespeare em um livro que gosto - a outra foi em Admirável Mundo Novo e agora tenho mesmo que ler a obra! rs). Um ser mesquinho e ressentido, incapaz de ver o mundo social com olhos diferentes do que acredita serem os olhares dos outros para si... Um ser inferiorizado por sua própria incapacidade de ver a si mesmo como fora de um círculo vicioso de inferiorização, submissão, adoração e ressentimento. 

Embora eu não tenha lido a obra de referência, o que eu gostei é que o autor faz um jogo o tempo inteiro com as percepções dos dois personagens. Minha sensação foi a de que ora o calibanismo é de um, ora é de outro sob outro ponto de vista. Vocês concordam?



Miranda é uma personagem que me interessou muito mais (claro! rs); afinal é com ela que vivenciai dramas, contradições e a dor. A medida que o seu diário avança eu ia me sentindo com raiva, pena, surpresa e medo (embora eu já soubesse do que aconteceria!)... Que escrita a do Fowles: por vezes eu sentia o desespero completo de Miranda!

Mas o mais interessante acho que foi a revelação das dificuldades, dos pormenores e das características psicológicas dessa personagem tão complexa e interessante: Miranda não conseguia também viver sua vida (anterior ao cativeiro) sem o peso dos preconceitos sociais e do ressentimento! Vivia, afinal, também no mundo "morto" da fotografia, em um mundo estático no qual ela não conseguia anadar por si mesma sozinha, livre e viver sua criatividade, seu potencial... era como se não conseguisse largar nas suas ações muitos pensamentos/preconceitos mortos, sem vida! (me refiro aqui a dificuldade de entregar-se sem reservas à suas paixões)
Encontrou em G. P. uma voz externa que lhe mostrou um mundo de referências, contemplação da beleza e de vida que ela se sentia aquém de viver por si mesma e que lhe impediu de entregar-se ao amor completamente. Outras características bem interessantes de Miranda, entretanto, revelavam a sua decisão racional de seguir seus princípios, o que ela classificava como sua "humanidade", aquilo que era mais importante para ela no mundo. Ela vivia um dilema que a impedia de amar verdadeiramente - vide a relação com a sua mãe - e acabava também por reproduzir sem querer nas suas ações  a vida daqueles que ela rotulava como os que não existiam... os médios, as meias criaturas. (me refiro especialmente à dificuldade de viver o amor por G. P. abandonando preocupações com idade, casamento, traição etc)

Gostei demais também das várias metáforas em relação à arte e as relações com os personagens (não apenas os principais; mas os amigos de Miranda e de GP); das referências à Jane Austen (especialmente à Emma!) e das análises dos diferentes olhares em relação à pintura, o desenho e a fotografia. 

Termino minhas poucas considerações (porque o livro me provocou muitas reflexões que me sinto incapaz por ora de colocar no papel), com um trecho da leitura que me emocionou demais.

Uma das metáforas que eu mais gostei foi a da relação entre o pintor que pinta algo que ele "sente" e o que pinta apenas o exterior, algo que está fora dele e assim reproduz a realidade sem integrar-se à ela. Sobre isso, os momentos do diário de Miranda que achei mais lindos foram aqueles onde ela descrevia ideias para pinturas e sua relação com a luz, com o movimento, seu processo criativo em meio a dor.












Uma última coisa: que final, hein? Terminei de ler deitada no chão de tanto nervoso! haha. Ainda que esperado o relato é TERRÍVEL e eu quase bati no papel! rs

Ainda quero ver o filme, pois não tive chance estes dias. Curiosíssima em saber como foi adaptado; como traduzir narrativas tão fortes em primeira pessoa para à telona?! ; )

sábado, 9 de março de 2013

Fup de Jim Dodge



O autor de Fup, Jim Dodge, é uma dessas pessoas que eu acredito que, caso tivéssemos nos conhecido, seríamos grandes amigos! (rs)

O escritor norte americano fez escolhas fora dos padrões ao longo de sua vida e a sua escrita segue a sua essência de uma forma bem interessante. Dodge trabalhou em vários ofícios antes de se decidir pela escrita. Foi professor, pastor de ovelhas, jogador profissional... Viveu quase 15 anos de forma isolada em uma comunidade alternativa e auto sustentável e dedicou-se, nesse período, também à poesia.

A busca de uma vida mais simples, e de certo modo selvagem, o seu quase anarquismo (expresso na crítica aos controles governamentais, mas também na capacidade de escolher por si mesmo uma estrutura de vida diferente dos moldes culturais), e a sua narrativa na obra Fup foram os elementos que mais me cativaram em Dodge!

 "Sou um pouco anarquista. Acho que não precisamos de muito controle governamental nas nossas vidas, quanto mais governo envolvido, menor a possibilidade de descobrir sobre si mesmo. A liberdade de fracassar é muito importante para mim" (Jim Dodge em trecho de entrevista concedida ao Jornal do Brasil, disponível na íntegra aqui; grifo meu)

Depois do período de quase isolamento do mundo social, Dodge voltou para a cidade grande e publicou três romances, diversos ensaios, roteiros, textos etc. Voltou a lecionar e até hoje dirige um projeto de estímulo à escrita criativa na Universidade de Humboldt na Califórnia; sobre o qual tenho muita curiosidade.

"Sempre digo que talento é ordinário. Muitas pessoas são abençoadas com imaginação, outras têm facilidade de escrever, mas poucas têm convicção suficiente para sentar o traseiro e passar dias escrevendo. Esse é meu único conselho: se você quer ser um escritor, escreva. Você só precisa de imaginação e disciplina. Mas nem todo mundo está disposto a fazer o sacrifício que isso exige. Quando terminei O enigma da pedra, me senti um lixo. Foram dois anos dedicados ao livro. Por isso tantos escritores são auto-destrutivos, são aprisionados no espelho" (Jim Dodge em trecho da mesma entrevista concedida ao Jornal do Brasil)

Seus romances:

Fup - publicado no Brasil pela José Olympio Editora na coleção Sabor Literário (esta é a edição que eu tenho e adoro a coleção, recomendo!).
O enigma da pedra - também publicado no Brasil pela mesma editora.
Not fade away


Fup é seu livro mais divulgado e aclamado pelos leitores. 

A história inusitada, quase uma fábula, tem como um dos personagens principais uma pata gorda com um comportamento idiossincrático: hilário e irônico na medida. Os demais personagens também são construídos de modo muito interessante e possuem formas de ver o mundo e atitudes que nos revelam as críticas e perspectivas sobre a vida social de Dodge de um jeito extremamente cativante.

Fup é um desses livros que nos faz dormir com um sorriso bobo no rosto e a certeza renovada de que há uma beleza inescrutável no ser humano! Simplesmente um belo livro!

O conhecimento científico, a cultura e as inúmeras facilidades da vida social contemporânea muitas vezes nos isolam e nos fecham para este mundo indescritível que é o outro. 
Poder olhar o outro integralmente com as suas particularidades, diferenças e beleza únicas é uma virtude que, muitas vezes, é relegada e esquecida no nosso mundo (individualista e sectário).

Jim Dodge nos relembra nessa obra da singularidade e das imensas possibilidades da nossa própria  história (baseada nas nossas escolhas, na nossa liberdade que é algo realmente maravilhoso!) e do mundo fantástico que é amar os demais, sejam estes seres racionais ou não... ; )


* Fiz um vídeo para o canal falando de Fup!
**Este post é a minha quarta resenha para o Desafio Literário 2013. Minha lista de livros para o desafio: aqui.
(Uma versão inicial deste texto apareceu no blog já extinto 365 escritores)

sexta-feira, 8 de março de 2013

O restaurante no fim do universo e a imaginação indescritível de Douglas Adams

 Li o segundo volume da série O Mochileiro das Galáxias para o Desafio Literário de 2013. (E sim, minha resenha está um pouco atrasada, rs)

Douglas Adams já tinha me proporcionado ótimos momentos com o excelente livro de abertura da série e o tema do mês era livros que nos façam rir; então não tive dúvidas e achei que seria uma ótima leitura. Mas, como é sabido, tanto na literatura como na vida criar muita expectativa nem sempre é algo bom. Porque a possibilidade da leitura não corresponder a essa expectativa idealizada é enorme e você fica com aquela sensação que o livro não deu o que tinha que dar (embora o tamanho da sua decepção seja fruto quase que exclusivamente dessa sua própria expectativa generalizada e inatingível...).

Dito isso, O restaurante no fim do universo é um bom livro, mas não tanto quanto O guia do mochileiro das galáxias. ;)

É fato que continuações são difíceis por natureza. Douglas Adams nos brinda neste segundo volume com muitas doses de sua ironia inteligente e com tiradas incríveis e isso já vale a leitura. Mas o livro tem um problema que, na minha opinião, incomoda bastante o leitor: a falta de um enredo. Além disso, ou em paralelo à isso, os personagens se perdem na falta de um roteiro com início, meio e fim (ou outras possibilidades cabíveis). 

Inicialmente achei que era proposital (e ainda acho que pode ser; afinal, tenho que ler a continuação para poder avaliar melhor), mas no meio para o fim do livro a sensação de que ele estava me levando de nada a lugar nenhum ficou mais forte.

A história começa com um breve resumo do livro anterior e com o reaparecimento dos Vogons que voltam para terminar o que tinham começado: exterminar os humanos (no caso, os únicos dois humanos restantes no universo: Arthur e Trilian). Diante da possibilidade da extinção da nave Coração de Ouro e da incapacidade de se entender com o computador central da nave para que ela funcione e eles fujam, Zaphod Beeblebrox resolve invocar o seu bisavô para pedir ajuda (? rs).

A partir de então tem início uma saga que separa os personagens e os une apenas em alguns momentos da trama. Um dos melhores momentos é quando acompanhamos Zaphod Beeblebrox e Marvin sendo perseguidos em um planeta distante por uma patrulha Frogstar. O objetivo é levar Zaphod para que este seja submetido ao Vórtice da Perspectiva Total, uma aparelho simplesmente brilhante! (rs).
Nesse trama inícial, os dois passam por situações hilariantes e eu até cheguei a simpatizar um pouco mais com Zaphod. ;)

O segundo melhor momento é, seguramente, o jantar no restaurante no fim do universo! Nessa hora fiquei me perguntando: quantas ideias geniais uma pessoa pode ter? Porque a imaginação do autor parece não ter fim, rs.

Creio que a leitura vale mais a pena quando feita da série inteira de forma seguida. Dessa forma, talvez eu não tivesse me sentido tão incomodada com a falta de um enredo central neste livro.

No mais, termino com um trechinho de um dos momentos incríveis da capacidade criativa e do humor irônico de Adams:

"Os elevadores modernos são entidades estranhas e complexas. Os antigos aparelhos elétricos com cabos de aço e 'capacidade-máxima-para-oito-pessoas' possuem tanta semelhança com um Transportador Vertical Feliz de Pessoas da Companhia Cibernética de Sirius quanto um saquinho de castanhas sortidas tinha com toda a ala esquerda do Hospital Psiquiátrico de Sírius.
Basicamente, os elevadores agora operam segundo o curioso princípio da 'percepção temporal desfocada'. Em outras palavras, são capazes de prever vagamente o futuro imediato, o que permite que estejam no andar correto para apanhar seus passageiros antes mesmo que eles possam saber que queriam chamar um elevador. Dessa forma, eliminaram todo aquele tédio relacionado a bater papo, se descontrair e fazer amigos ao qual antes as pessoas eram forçadas enquanto esperavam os elevadores.
É apenas uma consequência natural, então, que muitos elevadores imbuídos de inteligência e premonição tenham ficado terrivelmente frustrados com esse trabalho inominavelmente tedioso de subir e desces, subir e descer ; eles experimentaram brevemente a noção de ir para os lados, como uma espécie de protesto existencial, em seguida reivindicaram maior participação no processo de tomada de decisões e finalmente começaram a jogar-se deprimidos nos porões.
Em nossos dias, um mochileiro sem grana que esteja passando por qualquer um dos planetas do sistema estelar de Sírius pode arrecadar um dinheiro fácil trabalhando como terapeuta de elevadores neuróticos."
O Restaurante no fim do universo, Douglas Adams. Editora Arqueiro, pág. 36.



Este post é a minha terceira resenha para o Desafio Literário 2013. Minha lista de livros para o desafio: aqui.